sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Jornada Eterna


                Escalou uma montanha de neve para encontrar um lírio sobrevivente e luminoso. Quis pegá-lo, mas não, pensou, eu não mereço destruir essa beleza arrancando-a daí com minhas mãos sem brilho. Continuou, então, subindo com seus pensamentos tristes, mas convictos. Já havia encontrado o que queria, mas continuou.

                Chegou à um ponto onde havia uma casa. Sim, uma casa em uma montanha de neve. Estava com frio então se aproximou e entrou na casa sem bater. Não era uma casa comum, era um lar de sonhos. Um desses lugares que você não quer nunca sair. Com menos frio, caminhou procurando conhecer os aposentos.
 
                Havia muitas pessoas lá, mas nenhuma parecia vê-la: passando por ela como se fosse uma peça de decoração. Ignorando isso, continuou andando. Achou uma biblioteca com estantes e estantes de livros dos sonhos dela, uma loja de jogos que parecia ser uma sala de sobrevivência e um lugar particularmente estranho, coberto de neve com um buraco no chão, bem ao meio. Foi procurar saber o que era, aproximando-se até ver uma pessoa cair nele. Afastou-se, com medo, imediatamente. Quem caía naquele poço branco não voltava mais. Devia atrair gente louca que tem fixação pela cor branca, desejo de ter todas as cores para si ao mesmo tempo. Quem sabe?

                Saiu do aposento cantarolando pedaços de músicas que nem lembrava que ainda sabia. (I came along. I wrote a song fooor you...) Ninguém a ouvia. Sentou-se no chão de madeira daquele lugar pensando em um universo distante onde foi feliz. Pensando no lírio iluminado.

                Chegou então um homem que a lembrava, impressionantemente, o amor. Este parecia vê-la nitidamente, diferente das outras pessoas. Levantou-a e olhou nos olhos dela, profundamente magoado. Mas ela não compreendia o por quê de tanta mágoa, tentou perguntar, mas ele não a ouvia também. Então acabou absorvendo aquela atmosfera triste ainda mais.

                Ele caminhou para fora da casa e ela o seguiu, curiosa e ao mesmo tempo desesperada para que aquela tristeza fosse embora. O frio aumentou. Foi seguindo vultos daquele que lembrava o amor tão distante, passou pelo lírio novamente parando por um bom minuto de esperança para apreciá-lo. Desceu a montanha de neve e andou sem enxergar mais nada por um longo tempo sem sentimentos.

                Já não se importava muito com aquele homem, só estava dispersando suas forças de todos os pensamentos que não a deixavam em paz. Viu então na sua mente o olhar severo de quem já não tem paciência e está desistindo de aguentar uma pessoa, como amigo ou amante. (If you love me why’d you let me go?)  Apenas aquele olhar a trouxe uma tristeza tão maior que ela se deitou, ali mesmo no frio e à noite. Isso não a incomodava muito porque a casa devia ser ali perto, pensava ela. Então algum daqueles fantasmas que não a viam poderiam aparecer para ajudá-la. E porque era forte o suficiente para suportar. Sempre fora. (When i’m dead and hit the ground my nerves are poles that unfroze!)

                Mas e se ela fosse, na verdade, o fantasma? Alguém que já não sentia o frio da noite àquela hora só podia... Mas seu pensamento não se demorava muito em um único assunto.

                Viu então o homem que tinha conseguido enxergá-la dar um "tchau" com lágrimas nos olhos. Para ter conseguido enxergá-la só podia conseguir sentir daquela emoção que ela sentia. Aquela revolta com todos que não queriam enxergar. Talvez sequer a visse, apenas sentisse. Mas por que chorava? Não, espere, você não pode ir agora! Pensava ela, deitada. Ele não olhou para trás. 

                Estava tão triste que não conseguia se levantar, já não sentia mais nada, olhos fechados, não queria mais nada, nenhum amanhã. Será que viajou por todo aquele mar branco sem destino apenas para dar adeus a mais pessoas? Sem ver novamente qualquer flor que a trouxesse esperança?

                Então um fragmento de sol intrometido banhou o seu rosto com um leve brilho. Levantou-se e lembrou que não. 

Por: Ama.